ORIGEM
DO ZERO
Embora a grande invenção prática do zero seja
atribuída aos hindus, desenvolvimentos parciais ou limitados do conceito de
zero são evidentes em vários outros sistemas de numeração pelo menos tão
antigos quanto o sistema hindu, se não mais. Porém o efeito real de qualquer um
desses passos mais antigos sobre o desenvolvimento pleno do conceito de zero -
se é que de fato tiveram algum efeito - não está claro.
O sistema sexagesimal babilônico usado nos textos
matemáticos e astronômicos era essencialmente um sistema posicional, ainda que
o conceito de zero não estivesse plenamente desenvolvido. Muitas das tábuas
babilônicas indicam apenas um espaço entre grupos de símbolos quando uma
potência particular de 60 não era necessária, de maneira que as potências
exatas de 60 envolvidas devem ser determinadas, em parte, pelo contexto. Nas
tábuas babilônicas mais tardias (aquelas dos últimos três séculos a.C.) usava-se um símbolo para indicar uma potência
ausente, mas isto só ocorria no interior de um grupo numérico e não no final.
Quando os gregos prosseguiram o desenvolvimento de tabelas astronômicas,
escolheram explicitamente o sistema sexagesimal babilônico para expressar suas
frações, e não o sistema egípcio de frações unitárias. A subdivisão repetida de
uma parte em 60 partes menores precisava que às vezes “nem uma parte” de uma
unidade fosse envolvida, de modo que as tabelas de Ptolomeu no Almagesto (c.150
d.C.) incluem o símbolo ou 0 para indicar isto. Bem mais tarde,
aproximadamente no ano 500, textos gregos usavam o ômicron, que é a primeira
letra palavra grega oudem (“nada”). Anteriormente, o ômicron, restringia
a representar o número 70, seu valor no arranjo alfabético regular.
Talvez o uso sistemático mais antigo de um símbolo para zero num sistema
de valor relativo se encontre na matemática dos maias das Américas Central e do
Sul. O símbolo maia do zero era usado para indicar a ausência de quaisquer
unidades das várias ordens do sistema de base vinte modificado. Esse sistema
era muito mais usado, provavelmente, para registrar o tempo em calendários do
que para propósitos computacionais.
É possível que o mais antigo símbolo hindu para zero tenha sido o ponto
negrito, que aparece no manuscrito Bakhshali, cujo conteúdo talvez remonte do
século III ou IV d.C., embora alguns historiadores o localize até no século
XII. Qualquer associação do pequeno círculo dos hindus, mais comuns, com o
símbolo usado pelos gregos seria apenas uma conjectura.
Como a mais antiga forma do símbolo hindu era
comumente usado em inscrições e manuscritos para assinalar um espaço em branco,
era chamado sunya, significando “lacuna” ou “vazio”. Essa palavra entrou
para o árabe como sifr, que significa “vago”. Ela foi transliterada para
o latim como zephirum ou zephyrum
por volta do ano 1200, mantendo-se seu
som mas não seu sentido. Mudanças sucessivas dessas formas, passando
inclusive por zeuero, zepiro e cifre, levaram as nossas palavras “cifra” e “zero”.
O significado duplo da palavra “cifra” hoje - tanto pode se referir ao símbolo
do zero como a qualquer dígito - não ocorria no original hindu.
Fonte Tópicos de História da Matemática para uso em
sala de aula; números e numerais, de Bernard GUNDLACH. Acadmica:Lúcia Beatriz Oliveira da Silva
Achei interessante este texto, pois desconhecia a história e a necessidade de uma explicação deste algarismo.
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